segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

32 Minutos

Perdi a conta de quantos domingos tornaram-se perfeitos do teu lado. 
Perdi a conta de quantos dias amanheci no teu quarto, 
desejando boa noite infinitamente
Perdi a conta de contas vezes jurei amor a teu dedo mindinho, 
quantas calcinhas suas repousaram no meu chão,
quantos metros do seu corpo abastado percorri com meu paladar.

Perdi a conta dos dias úteis anulados pela falta de concentração 
por teu cheiro de alecrim doce levemente impregnado nos cabelos do meu braço. Perdi a conta de quantas vezes rimei amor só contigo. Perdi a conta das frases intercaladas com pequenos beijinhos que disse perante teu olho, bem de perto. E também de quantas cores outonais já contei na tua íris.

Perdi a conta de quantas vezes te proíbi de ir embora, mesmo sem roupa limpa alguma pra vestir. Perdi a conta das novas canções que aprendi de cor que carimbam teus gestos meigos e femininos no meu pensamento. Perdi a conta de quantos sorrisos convincentes já hidrataram minhas manhãs. Perdi a conta de quantos sabores seletos já senti no sal da tua pele.

Perdi a conta de quantos cabelos castanhos já deparei emaranhados no meu travesseiro, nos meus ombros, no meu ralo. 
Perdi a conta de quantas semanas já torci pra acabarem,
de quantas sobremesas já me lembraram você no balcão da confeitaria, 
de todos os ritmos que já embalaram nosso sexo.

Perdi a conta de quantas vezes insinuei te mudares pro meu apartamento.
Perdi a conta de quantas vezes tu disse que me amava
e logo pediu desculpas na prerrogativa de que amor é fábula
Perdi a conta de quantas vezes adorei tua cara de sono,
de todas as vezes que joguei cigarros teus pela janela,
de quantos prazeres óbvios perderam o sentido sem você por perto.

Engraçado, a única coisa que nunca perco a conta é de quanto tempo
faz que tu sai daqui e demora pra voltar
me esfaqueando com a agonia boa da saudade. 
No placar do momento, tempo hábil pra escrever esse texto: 32 minutos.
 
 
                                                                            Caras como eu

Preciso de um Slogan que venda o amor


Então é Natal. Então preciso de um slogan que venda o Computador-X
mais eficazmente que uma Mamãe Noel loira, de mamilos rijos
e uma pedra de gelo na boca. Todos acreditam no meu potencial.
O dono da agência crê. O dono do Computador-X tem fé. 
O diretor de arte, que aguarda a ideia para iniciar o design
e já me ligou 18 vezes essa semana, acredita. 
Enfim, o sucesso de vendas do Computador-X
depende da minha suposta capacidade de matar o jogo num lance,
como fazia o Romário. Estresse no olho do furacão.

Ela sugere vir pra cá. Eu preciso ficar só. 
Ela insiste, diz que a semana foi "uó" e vai dormir esgotada de toda forma.
Só quer estar por perto, passar e dar um beijo,
passar e me massagear os ombros, passar e me trazer um chá de hortelã,
passar e me dizer que sou capaz, passar e aconselhar 
não mandar o diretor de arte à Nápoles. Não sei dizer não. 
Ela vem e traz China In Box. A gente janta, atualiza as boas novas e os engodos. 
O diretor de arte me liga clamando pelo job enquanto engulo um rolinho Primavera. Desespero. Ela me acalma e vai à ducha. Penso.

Me sai limpa e suada do mormaço com aquele conjuntinho da Hello Kitty semitransparente. Observo aquelas coxas grossas, 
lisas e perfumadas e a calcinha marcando o bumbum volumoso e arredondado cortando a sala e se atirando no sofá, de catálogo da Natura em mãos
Pela primeira vez assisto tudo aquilo e penso em slogan ao invés de sexo. 
Penso. Ela dorme só. Arrasto corrente pela casa. Penso. 
Meus problemas se acumulam. Além de um slogan, preciso de um celular novo.
O meu, espero ter chocado-se contra a boca do diretor de arte após voar pela janela. Penso e plagio a Coca-Cola. Envio o job ao dono da agência. 
A resposta vem à jato e à seco: "Veto".

Ela acorda pelo xixi matinal conforme sempre. 
Me pega na poltrona com duas rodelas de pepino nos olhos e um canecão de café tinto na mão e pensando. 
Me carrega pela mão pra dormir um bocado. 
Eu choro na frente de uma mulher que não é minha mãe, aos 27 anos. 
Sonho que estamos transando de quatro. Ela se vira safada pra mim,
põe a linguinha pra fora e diz "Computador-X". Acordo no pulo,
o diretor de arte pisca feito uma bichona no messenger. 
Volto à cama e decoro as minuciosidades do teto. 
Ela diz a bendita frase que vira o jogo.  
"Sabe, eu nunca me permiti passar um sábado inteiro na cama com um homem. Porque nunca achei um digno de ser posto a frente da minha vida"
Através de seus olhinhos brilhantes e sapecas me dou conta de outras pendências na vida, além de vender Computador-X feito água em Senegal. What a fucking hell!

Almoçamos os vestígios de chinese food aquecidos no microondas.
Deixo ela ficar com o último rolinho Primavera. Faz sol lá fora. 
Fazemos amor um em cima do outro. 
Chove agora e a tevê contabiliza e nos faz saber o número parcial de desabrigados. Cochilamos um tanto. Faz um solzinho espanhol.  
Transamos de quatro e ela não diz "Computador-X".  
Nem penso em Computador-X. O diretor de arte me liga no celular particular,
mas não consigo odiá-lo.
Exausto, caio enviesado e quase parto o perônio no meio
Assistimos "Um Lugar Chamado Nothing Hill" do meio pra frente.
Ela chora quando toca "She" no final. Durmo e sonho com vampiros virgens. 
Abro os olhos, é noite e chove candidamente. Conversamos e nos acarinhamos. 
Conversamos e tiramos com a cara de um amigo. 
Conversamos e concluímos que minha sogra é doente.
Levanto peitudo feito o Jack Bauer 
ao salvar o planeta de terroristas iranianos após 24 horas.

Mando o slogan para o dono da agência. Ele responde o email: "Você é foda". 
Treplico a mensagem: "Sou no máximo fodinha, Seu Vital. 
Foda é passar o sábado na cama com a mulher que ama sem pensar em nada. 
Foda é se perder sem porquê de vez em quando.  
Foda é colocar o amor em primeiro lugar. Foda é o amor,
Seu Vital".
                         CARAS COMO EU